VGHF11 paga 14% ao ano, mas esconde armadilhas?

O VGHF11, fundo multiestratégia da Valora Investimentos, é um dos maiores da Bolsa, com quase 400 mil cotistas e participação relevante no IFIX. Mas será que ele entrega o que promete? Apesar do nome sofisticado, o fundo tem se aproximado cada vez mais de um típico fundo de CRI e FOF, levantando questionamentos sobre sua real diversificação e riscos ocultos.

O que é o VGHF11?

Lançado em 2021, o VGHF11 (Valora Hedge Fund FII) foi o primeiro fundo imobiliário multiestratégia listado na B3, com liberdade para investir em diversas classes de ativos como CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), FIIs, ações, FIDCs e participações em SPEs (Sociedades de Propósito Específico). O objetivo? Gerar tanto renda recorrente quanto ganho de capital.

Mas, com o passar dos anos, sua alocação mudou. Hoje, quase 92% do patrimônio está concentrado em CRIs e FIIs, deixando pouco espaço para outras estratégias mais diversificadas.

Composição atual da carteira

  • 46% em CRIs

  • 45,7% em FIIs

  • 5,4% em SPEs (desenvolvimento imobiliário)

  • 1,2% em ações

  • 1,1% em FIDCs

Ou seja, apesar de “multiestratégia”, o fundo tem se comportado como um FOF de CRI com pouca diversificação em ativos alternativos.

Deságio atrativo, mas com volatilidade

Em abril de 2025, o fundo negocia com 11% de desconto sobre seu valor patrimonial, com um P/VP de 0,89. Isso contribui para um dividend yield de 14,2% nos últimos 12 meses, isento de Imposto de Renda. Apesar do rendimento atrativo, a volatilidade é elevada, reflexo das incertezas na carteira.

O fundo distribuiu R$ 0,09 por cota em março de 2025, o que corresponde a 1,15% ao mês sobre o preço da cota. Uma boa rentabilidade, mas que esconde algumas fragilidades.

Pontos críticos: inadimplência e exposição concentrada

Dois pontos chamam atenção na carteira do VGHF11:

  1. Inadimplência em CRIs:

  • O fundo tem duas operações inadimplentes: o CRI Celina, representando cerca de 2% do patrimônio, e o CRI Guaicurus, com 0,76%.

  • No total, menos de 3% do PL está comprometido, o que dilui o risco, mas não o elimina.

  1. Alta exposição à Elbor:

  • 12,5% do patrimônio está atrelado à construtora Elbor, através de diversos CRIs.

  • Esse nível de concentração em uma única empresa é considerado arriscado, principalmente em um fundo que deveria ser mais diversificado.

Conflitos de interesse na gestão

Outro ponto que incomoda no VGHF11 é a grande alocação em fundos da própria gestora Valora, como o VGIP11 e o VGIR11. Embora as participações não sejam majoritárias, esse tipo de prática levanta questionamentos sobre a independência das decisões de alocação.

Além disso, o fundo também investe em produtos de outras gestoras em acordos de “troca de favores”, o que limita o potencial de selecionar os melhores ativos disponíveis no mercado.

Estratégias de alocação: renda e valor

O VGHF11 divide sua carteira em:

  • Carteira de Renda:
    Com foco em geração de dividendos, concentra 74% em fundos de papel (CRIs), 19,7% em fundos de escritório e uma fatia pequena em fundos urbanos.

  • Carteira de Valor:
    Voltada para ganhos de capital, aloca 37% em fundos imobiliários, com ênfase em escritórios (35,3%) e logística (9,3%). Essa parte busca vender ativos com lucro, mas vem sofrendo para entregar resultados.

Performance: CRIs sustentam o rendimento

A maior parte do resultado do fundo vem dos CRIs, que geraram R$ 28,1 milhões em 2025, contra R$ 19,2 milhões dos FIIs. A gestão tem conseguido negociar alguns CRIs com lucro, o que contribui para manter o rendimento em torno dos R$ 0,09 por cota.

Por outro lado, os FIIs têm sido um peso morto na performance, sem gerar resultados expressivos, o que reforça a crítica sobre a alocação excessiva em fundos de escritório com baixo desempenho.

Taxas e alavancagem

  • Taxa de administração: 0,9% ao ano sobre o patrimônio líquido.

  • Taxa de performance: 20% sobre o que exceder IPCA + Yield do IMA-B.

  • Alavancagem: Moderada, com R$ 67 milhões em operações compromissadas, o que representa uma alavancagem controlada frente ao patrimônio de quase R$ 1,4 bilhão.

Vale a pena investir no VGHF11?

Apesar do dividend yield atrativo e do desconto sobre o valor patrimonial, o VGHF11 carrega riscos importantes: alta concentração em determinados ativos, conflitos de interesse e baixo desempenho dos FIIs. Para quem busca renda passiva consistente, é essencial pesar esses fatores antes de investir.

O fundo pode continuar pagando cerca de R$ 0,09 por cota, sustentado pelo bom desempenho dos CRIs e pela alta da Selic e IPCA, mas o investidor precisa estar confortável com o perfil de risco.

 

O post VGHF11 paga 14% ao ano, mas esconde armadilhas? apareceu primeiro em O Petróleo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Review Your Cart
0
Add Coupon Code
Subtotal