Nos últimos meses, o Tesouro IPCA+ vem chamando atenção com promessas de retorno que ultrapassam IPCA +10% ao ano. Essa é uma das maiores taxas registradas desde a criação do Tesouro Direto, levando muitos investidores a se perguntarem: vale a pena trocar um título IPCA+6 por um IPCA+10? A resposta parece óbvia, mas os bastidores do mercado revelam um cenário bem mais complexo.
Por que o Tesouro IPCA+ está pagando tanto?
O Tesouro IPCA+ é um título público atrelado à inflação, com rendimento real garantido acima do IPCA. Isso o torna um dos ativos mais desejados por quem busca proteção do poder de compra e previsibilidade no longo prazo. E não é por acaso.
Segundo dados históricos, os títulos IPCA+ com vencimentos longos renderam mais do que a maioria dos investimentos no Brasil nos últimos 10 anos — perdendo apenas para os índices norte-americanos S&P500 e Nasdaq.
Além disso, momentos em que o Tesouro IPCA+ oferece taxas reais superiores a 7% são raros. Em 15 anos, isso ocorreu em menos de 5% do tempo. Ou seja, estamos diante de uma janela rara — e potencialmente lucrativa — para quem pensa em longo prazo.
Por que então poucos estão aproveitando?
Apesar das taxas elevadas, a venda desses títulos caiu de 77% para 52% em 2023. O motivo? Alta percepção de risco. O Brasil enfrenta um cenário de risco fiscal elevado, o que leva investidores a exigirem retornos maiores para aplicar.
Além disso, o mundo está mudando. Os Estados Unidos, por exemplo, mantêm a maior taxa de juros desde 2005, o que faz com que investidores globais optem por ativos em dólar — mais seguros e com retorno atrativo.
Os riscos por trás do Tesouro IPCA+
Risco de reinvestimento
Comprar um título com IPCA+10% hoje não garante esse mesmo retorno para os próximos aportes. As taxas variam com o tempo e, se caírem, o investidor poderá comprar novos papéis com rentabilidades bem menores, reduzindo a média da carteira.
Risco de mercado
Os títulos IPCA+ são altamente voláteis. Já houve quedas de até 50% no valor de mercado, especialmente em momentos de estresse econômico. Isso pode assustar investidores desavisados, levando a decisões precipitadas como vender no prejuízo.
Risco de ilusão da rentabilidade
Gráficos que mostram a “linha reta” da rentabilidade do IPCA+ são teóricos. Na prática, a carteira de um investidor é composta por diversos títulos, adquiridos em momentos diferentes, com taxas variadas. Isso dilui o impacto das taxas altas do momento.
Diversificação: o segredo do sucesso na renda fixa
O IPCA+ é apenas uma das engrenagens da renda fixa. Investidores experientes sabem que a diversificação entre títulos atrelados à inflação, prefixados e pós-fixados (Selic/CDI) é essencial para navegar diferentes cenários econômicos.
Por exemplo:
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Prefixados hoje pagam até 16,5% ao ano.
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CDBs de bancos médios oferecem IPCA+10% ou mais.
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Fundos de papel isentos de IR entregam retornos líquidos competitivos.
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Fundos globais e S&P500 também têm se destacado.
Cada ativo brilha em momentos diferentes: quando a inflação sobe, o IPCA+ ganha destaque. Quando ela cai, os prefixados podem entregar retornos reais surpreendentes. E os pós-fixados acompanham a Selic em movimentos de alta.
Vale a pena trocar o IPCA+6 por IPCA+10?
A resposta curta: não necessariamente.
Quem comprou IPCA+6 no passado deve segurar até o vencimento para garantir a taxa contratada. Vender hoje no prejuízo para comprar IPCA+10 pode consolidar perdas. Além disso, essa troca é frequentemente incentivada por corretoras que ganham comissionamento em movimentações — não necessariamente pensando no investidor.
Mais inteligente do que trocar é manter o título atual e considerar novos aportes nos papéis IPCA+10, dentro de uma estratégia de carteira bem definida.
O que fazer agora?
Se você está considerando aproveitar essa janela histórica de rentabilidade, o mais indicado é montar uma carteira equilibrada com:
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Tesouro IPCA+ (parte da proteção contra inflação)
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Títulos prefixados (captura de taxas altas)
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Pós-fixados (estabilidade e liquidez)
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CDBs, CRIs e CRAs (para quem aceita mais risco com isenção de IR)
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E, se o perfil permitir, um pé na renda variável e internacional
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