A Petrobras (PETR4), uma das maiores estatais da América Latina, viveu uma montanha-russa em março de 2025. Em meio à queda de 70% no lucro líquido anual, aumento de despesas e redução nos dividendos, as ações da companhia enfrentaram forte volatilidade. Ainda assim, o papel voltou a subir com força, impulsionado pela valorização do petróleo e por uma entrada robusta de capital estrangeiro na Bolsa brasileira. Mas afinal, ainda vale a pena investir na Petrobras?
Lucro em queda, dividendos frustrantes
Os números do balanço da Petrobras em 2024 não agradaram o mercado. A estatal viu seu lucro líquido anual despencar de R$ 124 bilhões em 2023 para R$ 36 bilhões em 2024, uma queda expressiva de 70%. No quarto trimestre, o prejuízo foi de R$ 17 bilhões, revertendo o lucro de R$ 31 bilhões registrado no mesmo período do ano anterior.
As despesas operacionais saltaram de R$ 79 bilhões em 2023 para R$ 105 bilhões em 2024, impulsionadas por uma política mais agressiva de investimentos determinada pelo governo federal. O presidente Lula tem utilizado a estatal como instrumento para aquecer a economia, antecipando obras e projetos, o que despertou receio nos investidores quanto à interferência política.
Esse cenário também impactou diretamente os dividendos. A empresa anunciou a distribuição de R$ 9 bilhões em proventos no último trimestre de 2024, abaixo das expectativas de mercado, que previam algo entre R$ 11 bilhões e R$ 17 bilhões. A frustração dos acionistas foi visível, refletindo na forte queda das ações no início de março.
Dívida e fundamentos pressionados
Outro ponto de atenção foi o aumento da dívida líquida, que passou de R$ 44 bilhões para R$ 52 bilhões no comparativo anual. Isso representa uma alta de 16%, comprometendo ainda mais o resultado da companhia, principalmente em um cenário de lucros em queda.
Apesar disso, os indicadores fundamentalistas seguem dentro de parâmetros aceitáveis para uma empresa do porte da Petrobras:
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PL (Preço/Lucro): 13,36 – abaixo da média histórica de 14,56
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P/VPA (Preço/Valor Patrimonial): 1,34 – considerado atrativo para empresas sólidas
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Dividend Yield (últimos 12 meses): 20,8%
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Margem líquida: 7,46%
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ROE: 10%
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Dívida Líquida/EBITDA: 1,88 – abaixo do limite considerado saudável (3,0)
Por que as ações voltaram a subir?
Apesar do balanço negativo, as ações da Petrobras (PETR4) se recuperaram rapidamente no fim de março, voltando ao patamar de R$ 37,81 após tocarem os R$ 32 durante a queda.
Três fatores explicam essa recuperação:
1. Alta no preço do petróleo
Com a valorização de 1% a 2% no preço do barril, todo o setor petrolífero se beneficiou. Empresas como a PetroRio e a própria Petrobras viram suas ações reagirem positivamente.
2. Entrada de capital estrangeiro
A desvalorização da Bolsa americana e as declarações protecionistas de Donald Trump, que pretende impor tarifas sobre países como Brasil, China, México e Canadá, fizeram os investidores globais buscarem oportunidades em mercados emergentes. A Bolsa brasileira, ainda barata, foi uma das principais beneficiadas — especialmente ações de alta liquidez, como Petrobras, Vale e Itaú.
3. Expectativa de mudança política em 2026
Pesquisas mostram crescente desaprovação do atual governo, e os estrangeiros apostam que uma eventual troca de comando em 2026 pode trazer maior responsabilidade fiscal e previsibilidade ao ambiente de negócios. Esse cenário faz com que muitos antecipem suas posições em ativos brasileiros.
Petrobras é proteção contra o dólar?
Além do atrativo dos dividendos, a Petrobras é frequentemente considerada uma proteção contra a desvalorização cambial. Isso porque boa parte da sua receita vem da exportação de petróleo, precificado em dólares. Em momentos de alta do dólar, a receita da estatal tende a subir, o que mitiga riscos para o investidor brasileiro.
Vale a pena investir em PETR4 agora?
A resposta depende do perfil do investidor. A Petrobras segue sendo uma empresa sólida, com bons indicadores e dividendos acima da média. Contudo, o risco político permanece elevado, com o governo interferindo nas decisões estratégicas da companhia.
Por outro lado, analistas de grandes instituições financeiras mantêm recomendação de compra, com base no desconto das ações, potencial de valorização do petróleo e possível retomada nos dividendos ao longo de 2025.
A Petrobras está longe de viver seu melhor momento financeiro, mas continua atraente aos olhos do investidor — especialmente o estrangeiro. O valuation descontado, o pagamento elevado de dividendos e a exposição ao petróleo e ao dólar tornam a PETR4 uma opção de renda variável com viés defensivo, ideal para quem busca diversificação com potencial de retorno.
Contudo, é fundamental acompanhar de perto os próximos movimentos da estatal e os desdobramentos políticos, que seguirão tendo papel crucial no desempenho das ações.
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