O mercado financeiro reduziu a projeção da inflação para o ano de 2025. Segundo o Relatório Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (24), o IPCA deve encerrar o próximo ano em 5,65%. Embora a nova estimativa represente uma leve melhora frente às semanas anteriores, ela ainda está acima do teto da meta estabelecida pela autoridade monetária, que é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (ou seja, até 4,5%).
A revisão para baixo da inflação ocorre num contexto de desaceleração econômica, alta de juros e pressão fiscal. E, embora seja um indicativo de que o mercado começa a enxergar algum arrefecimento dos preços, a estimativa ainda evidencia desafios significativos para a política monetária brasileira.
O que é o Relatório Focus e por que ele importa
O Relatório Focus é um boletim semanal divulgado pelo Banco Central com base nas expectativas de analistas de mercado. Ele reúne projeções de instituições financeiras para indicadores como inflação, taxa Selic, crescimento do PIB e câmbio, sendo uma das principais ferramentas utilizadas pelo mercado para balizar decisões de investimento e política econômica.
As projeções divulgadas nesta semana apontam:
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Inflação (IPCA): 5,65% em 2025
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PIB: crescimento de 1,98%
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Dólar: R$ 5,95 no fim de 2025
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Taxa Selic: 15% ao ano
Meta distante: inflação permanece acima do esperado pelo Banco Central
Apesar da leve redução na projeção inflacionária, o índice de 5,65% ainda supera significativamente o teto da meta de 4,5% para o ano que vem. Isso mantém o cenário de pressão sobre o Banco Central, que pode ter que adotar posturas mais rígidas em relação aos juros para conter a alta dos preços.
Segundo o economista Alan Ghani, a distância entre a projeção de inflação e a meta do BC reforça o cenário de juros elevados por mais tempo. “Com a Selic atualmente em 14,25% e uma expectativa de que ela chegue a 15% até o fim do ano, o ambiente segue desafiador”, explicou.
Crescimento do PIB em ritmo lento: só 1,98% em 2025
A economia brasileira deve crescer apenas 1,98% em 2025, conforme aponta o relatório. Isso representa um ritmo fraco de expansão, especialmente quando comparado a países emergentes que buscam recuperação mais vigorosa após choques econômicos recentes.
Para evitar essa desaceleração, o governo tem adotado medidas como a liberação de recursos do FGTS e a flexibilização do crédito consignado. No entanto, essas iniciativas podem gerar efeitos colaterais, como o aumento da demanda e, consequentemente, mais pressão sobre os preços — um dilema clássico entre estímulo e controle inflacionário.
Dólar deve fechar 2025 em R$ 5,95
Outro ponto de destaque no Relatório Focus é a projeção para o dólar, que deve atingir R$ 5,95 no final de 2025. Atualmente cotado a cerca de R$ 5,76, o câmbio tende a sofrer com a combinação de:
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Aversão a risco nos mercados globais
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Perspectivas de juros mais altos nos EUA
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Incertezas fiscais no Brasil
O aumento da taxa de câmbio tem efeito direto sobre a inflação, uma vez que encarece produtos importados e insumos industriais, impactando toda a cadeia produtiva.
Pressão sobre o governo e o Orçamento de 2025
A economista Deysi Coccaro destacou, em análise à CNN, que as projeções do Focus têm impactos importantes sobre a execução orçamentária do governo federal. A inflação acima da meta e o crescimento modesto elevam os desafios para cumprir metas fiscais, como o déficit zero proposto por Fernando Haddad.
“O mercado espera mais responsabilidade fiscal e menos retórica”, afirma Deysi. O ministro da Fazenda terá que equilibrar gastos e cortes, em meio a um ambiente de credibilidade fragilizada e incertezas sobre o compromisso com o novo arcabouço fiscal.
Além disso, uma inflação persistente compromete os repasses obrigatórios indexados ao IPCA, como aposentadorias, benefícios sociais e gastos com saúde e educação — o que pressiona ainda mais o espaço fiscal.
Selic deve subir: projeção de 15% reforça ciclo de aperto
O mercado financeiro também projeta uma alta adicional de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, que passaria dos atuais 14,25% para 15% até o fim de 2025. Isso confirma a leitura de que o Banco Central poderá continuar o ciclo de aperto monetário diante da inflação resistente.
Juros altos impactam diretamente o consumo, os investimentos e o custo da dívida pública. Por outro lado, são uma ferramenta central para controlar os preços e ancorar as expectativas do mercado.
O que esperar da economia em 2025?
Apesar da redução na projeção da inflação, o cenário ainda inspira cautela. A combinação de:
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inflação fora da meta
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crescimento econômico modesto
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dólar valorizado
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juros altos
cria um ambiente complexo para o Brasil em 2025. Com o mundo ainda atento às decisões do Federal Reserve nos EUA e às pressões fiscais internas, o país enfrenta o desafio de conciliar responsabilidade fiscal com estímulos ao crescimento.
A capacidade do governo de executar bem o orçamento, respeitar metas e garantir previsibilidade será fundamental para retomar a confiança dos agentes econômicos e pavimentar uma recuperação mais consistente.
O post Inflação em 2025 deve ser de 5,65%: veja o que isso revela sobre a economia brasileira apareceu primeiro em O Petróleo.