Endividar para pagar dívidas? O polêmico plano de Haddad e o impacto no bolso do trabalhador

Haddad afirma que a proposta busca equilibrar o direito ao crédito barato com a necessidade de preservar os recursos da poupança nacional para investimentos produtivos. O foco da proposta é permitir que trabalhadores com carteira assinada possam contratar empréstimos com desconto em folha — a modalidade do crédito consignado —, substituindo dívidas mais caras por outras mais acessíveis.

Essa linha de crédito teria como diferencial juros mais baixos do que os praticados no mercado de crédito pessoal tradicional. No entanto, os encargos ainda girariam em torno de 6% a 7% ao ano — o que, considerando a atual taxa Selic de 10,75%, não representa um alívio tão significativo.

Por que a proposta é alvo de tantas críticas?

Segundo dados recentes do Serasa, 57 milhões de brasileiros estavam endividados em março de 2025 — um número recorde que mostra o quanto o problema é estrutural. Cerca de 78% das famílias estão endividadas e 29% inadimplentes, sem conseguir sequer pagar suas dívidas atuais.

Críticos da proposta afirmam que o novo consignado pode se transformar em uma armadilha disfarçada de alívio financeiro, principalmente para aposentados, pensionistas e trabalhadores de baixa renda. Muitos deles acabam comprometendo boa parte de sua renda com parcelas fixas e não conseguem contrair novos empréstimos depois.

O uso do FGTS como garantia: avanço ou retrocesso?

Embora Haddad não tenha mencionado diretamente o uso do FGTS, há projetos em discussão que consideram permitir que o fundo de garantia seja utilizado como garantia para crédito consignado. Isso significa que, em caso de inadimplência, o banco poderá acessar o saldo do trabalhador.

Para os especialistas, essa prática é extremamente arriscada. Primeiro, porque o FGTS deveria ser um recurso voltado à segurança do trabalhador em casos de desemprego ou para investimentos estruturais, como moradia. Segundo, porque muitas vezes, o cidadão acaba pagando mais juros ao banco do que efetivamente consegue aproveitar do seu próprio dinheiro.

Crescimento econômico depende de mais do que crédito

O próprio governo reconhece que o país precisa crescer — tanto do ponto de vista do PIB quanto da renda das famílias. Mas muitos economistas argumentam que estimular o crédito, sem atacar a raiz do problema, pode gerar um ciclo vicioso de endividamento.

A informalidade, o desemprego, a baixa renda e a falta de educação financeira compõem o cenário que empurra os brasileiros para o crédito como única alternativa. Ao invés de fomentar apenas o acesso a empréstimos, o ideal seria investir na geração de empregos de qualidade, educação financeira e na redução dos juros através de equilíbrio fiscal.

O problema da “sensação de crédito”

Outra preocupação levantada é que o novo consignado pode criar uma falsa sensação de poder de compra. Muitos brasileiros, sem conhecimento financeiro, acabam utilizando o novo crédito não para quitar dívidas, mas para consumir ainda mais — o que agrava a situação.

A falta de uma educação financeira sólida torna esse tipo de política ainda mais perigosa. Sem saber administrar suas finanças, milhões podem cair em armadilhas de crédito recorrentes, comprometendo o futuro financeiro.

 Solução ou paliativo?

Embora o novo consignado possa oferecer algum alívio temporário para famílias endividadas, especialistas alertam que ele não resolve o problema estrutural do endividamento brasileiro. Sem uma reforma fiscal efetiva, geração de empregos de qualidade e acesso à educação financeira, medidas como essa apenas adiam o colapso.

Ao mesmo tempo, a crítica recai sobre o modelo de gestão que privilegia o consumo e o crédito ao invés do investimento produtivo. A chamada “solução elegante” do governo, portanto, pode acabar sendo uma resposta frágil para um problema que exige muito mais do que criatividade financeira: exige responsabilidade fiscal, planejamento de longo prazo e prioridade na educação do cidadão.

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