Nas últimas semanas, o real tem se fortalecido frente ao dólar, refletindo uma combinação de fatores externos e internos que influenciam diretamente o comportamento do câmbio. A manutenção dos juros pelo Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, somada à expectativa de uma super safra agrícola no Brasil e à entrada de capital especulativo, tem contribuído para a valorização da moeda brasileira.
Contudo, especialistas alertam que essa valorização pode ser temporária e movida por fluxos de capital voláteis, conhecidos como “hot money”, que entram e saem rapidamente do país em busca de ganhos de curto prazo.
Federal Reserve mantém juros e aumenta o apetite por risco
O primeiro factor que influenciou a recente queda do dólar foi a decisão da Reserva Federal de manter as taxas de juros inalteradas. Com isso, o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos se manteve elevado, o que atrai investidores internacionais interessados nos rendimentos oferecidos pelos ativos brasileiros.
Esse movimento estimula a entrada de recursos no país, valorizando o real frente ao dólar. Contudo, segundo analistas entrevistados pela BM&C News, esse tipo de capital não representa um investimento de longo prazo e pode gerar volatilidade adicional ao mercado.
“É um dinheiro volátil, chamado de hot money. Ele entra, realiza lucro e vai embora”, explica um dos especialistas ouvidos.
Capital estrangeiro entra no Brasil, mas não é investimento produtivo
Apesar do fortalecimento do real, o tipo de capital que tem entrado no país não é o investimento direto estrangeiro (IDE), aquele que contribui para o crescimento estrutural da economia. Em vez disso, o Brasil tem atraído principalmente recursos de portfólio, que são direcionados ao mercado financeiro e não permanecem por muito tempo.
Essa dinâmica gera um falso sentimento de estabilidade no câmbio, já que o dólar pode voltar a subir com a mesma velocidade caso o cenário externo mude.
“O Brasil despencou como destino de investimento direto. O que entra é capital de portfólio, que vai embora tão rápido quanto entra”, alerta outro analista.
Super safra agrícola pode ajudar a manter o dólar no patamar mais baixo
Um fator que pode contribuir para a continuidade da valorização do real é a expectativa de uma super safra agrícola em 2025. Com grande parte da produção voltada à exportação, a entrada de dólares no país tende a aumentar, aliviando a pressão sobre o câmbio.
No entanto, há um contraponto importante: a demanda internacional, especialmente da China, é enfraquecida.
Nos últimos meses, o país asiático, maior comprador de produtos agrícolas brasileiros, entrou em um cenário de deflação de alimentos, o que pressionou os preços para baixo. Assim, embora o Brasil consiga ganhar nenhum volume exportado, a entrada de divisas em dólares pode não repetir os registros coletados em 2023.
Promessas de Trump também influenciaram o dólar
Outro fator relatado por especialistas foi o comportamento recente do mercado em relação às promessas de campanha de Donald Trump. A percepção de que o ex-presidente, caso volte ao poder, pode adotar medidas menos agressivas do que as inicialmente previstas, trouxe alguma ruptura aos mercados globais.
A menor aversão ao risco levou a um desmonte de posições compradas em dólar por parte de investidores, favorecendo a sua queda frente a outras moedas, incluindo o real.
Além disso, as bolsas europeias também se valorizaram, contribuindo para uma maior atratividade de mercados emergentes como o Brasil.
Riscos e limitações: valorização do real é temporária?
Apesar dos sinais positivos, analistas alertam que o cenário é frágil e depende de fatores externos. O real pode continuar ganhando força no curto prazo, mas, sem uma melhoria estrutural no ambiente de negócios brasileiro, será difícil sustentar a valorização da moeda no longo prazo.
A ausência de reformas, o aumento dos gastos públicos e as incertezas políticas continuam sendo obstáculos para a atração de capital produtivo e duradouro.
“Se quisermos atrair investimento direto, precisamos de um ambiente de negócios mais estável. Hoje, o que temos é uma economia sustentada por medidas de impulso fiscal e transferência de renda”, afirmam os especialistas.
A recente queda do dólar é resultado de uma combinação entre política monetária dos EUA, fluxo especulativo de capital para o Brasil e perspectivas de exportações agrícolas. Embora o real seja mais forte, o Alicerce dessa valorização ainda é frágil e sujeito a oscilações globais.
Para sustentar um câmbio mais equilibrado e atrair investimentos duradouros, o Brasil precisa avançar em reformas estruturais que melhorem o ambiente de negócios e reduzam a dependência de fatores externos.
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