DCRA11: Por que o fundo segue com caixa alto e alocação lenta, mesmo com CDI em alta?

O DCRA11, um dos fundos FIAGRO mais comentados do mercado atualmente, chama a atenção pelo seu comportamento atípico: mesmo com a taxa Selic em trajetória de alta, o fundo mantém uma elevada reserva de caixa, com 36% do patrimônio sem alocação. Esse movimento levanta dúvidas entre os cotistas: é cautela ou lentidão na estratégia?

Panorama atual: caixa robusto e alocação em CDI

O relatório mais recente revela que o DCRA11 possui 64% da carteira alocada, sendo 54% do total do portfólio investido em ativos atrelados ao CDI, com uma taxa média de CDI + 4,6% ao ano. A exposição à inflação é modesta, com menos de 6% atrelado ao IPCA. Ou seja, trata-se de um fundo fortemente posicionado em crédito privado com remuneração variável conforme os juros.

Apesar disso, 36% do patrimônio ainda está em caixa, o que indica uma estratégia de espera por oportunidades mais interessantes no mercado de crédito agrícola.

Essa postura mais conservadora não é nova — o fundo já manteve alocações superiores a 40% em caixa nos últimos meses — mas começa a gerar desconforto em parte dos investidores.

Por que o fundo ainda não alocou esse caixa?

A gestão do fundo não detalhou completamente os motivos da demora, mas alguns fatores ajudam a entender o cenário:

  • Cenário macroeconômico volátil: Com a inflação oscilando e a taxa Selic em alta, muitos gestores preferem aguardar um ambiente mais estável antes de fechar novas operações.
  • Cautela com crédito: Após alguns eventos de inadimplência em fundos semelhantes, o DCRA11 aparenta priorizar a qualidade e segurança dos ativos.
  • Novas oportunidades em negociação: O fundo anunciou recentemente a aquisição de uma operação com a empresa Marque N, focada em locação de máquinas e equipamentos — um aporte de R$ 5 milhões, com remuneração atrelada ao IPCA + 8,5%.

Portfólio: concentração e perfil das operações

A carteira do DCRA11 hoje é composta por 17 ativos, sendo 64% do fundo alocado, com destaque para o setor de revenda de insumos (20%), segmento sucroalcooleiro (9,6%) e empresas de médio porte do agronegócio.

A maior exposição individual é de 8,4%, o que mostra uma boa pulverização, apesar de alguns nomes já conhecidos como Fiagril e Solubil figurarem entre os ativos principais.

Além disso, 90% das operações alocadas são indexadas ao CDI, o que é coerente com a atual política monetária de juros altos — tornando o fundo potencialmente atrativo em tempos de Selic elevada.

Distribuição de rendimentos: estabilidade com apoio da reserva

Em fevereiro, o fundo distribuiu R$ 0,09 por cota, resultando em um dividend yield de 17,9% ao ano, considerando o valor de mercado atual (bem abaixo do valor patrimonial).

Para manter essa distribuição linear, o fundo utilizou uma pequena parte da reserva, de aproximadamente R$ 1.000, totalizando R$ 606 mil distribuídos. Hoje, a reserva acumulada corresponde a cerca de R$ 0,02 por cota — o que ainda permite amortecer variações nos fluxos de caixa futuros.

Expectativas para os próximos meses

Com a perspectiva de alta contínua da Selic, o fundo tende a manter ou até aumentar o rendimento, considerando que a maior parte dos ativos está indexada ao CDI.

No entanto, para que isso aconteça de forma sustentável, é necessário que a gestão comece a alocar os recursos em caixa com mais agilidade. O cenário de juros altos favorece a renda fixa e fundos de crédito — e manter dinheiro parado por tempo demais pode custar caro.

Além disso, parte significativa dos ativos paga rendimentos trimestrais ou semestrais, o que gera oscilação na distribuição mensal. Nesse sentido, o fundo costuma recorrer à reserva para manter certa previsibilidade nos pagamentos.

Pontos de atenção: riscos e liquidez

Apesar da estratégia parecer controlada, existem alguns fatores que exigem monitoramento:

  • Alta concentração em CDI: Em caso de queda brusca da Selic, a rentabilidade do fundo pode ser fortemente impactada.
  • Liquidez em queda: O número de cotistas caiu em relação ao ano anterior, e o volume médio diário negociado reduziu-se para cerca de R$ 1,5 milhão, o que ainda é considerado bom, mas mostra sinal de desaquecimento.
  • Risco de crédito: Mesmo com todas as operações atualmente adimplentes, a gestão acompanha com atenção empresas como Fiagril, FSB e outras com histórico de volatilidade nos resultados.

Composição das séries e diversificação geográfica

O fundo apresenta uma mescla interessante de séries:

  • 40% em séries únicas (crédito corporativo direto),
  • 24% em séries Sênior (maior segurança),
  • O restante entre subordinadas e mesaninas.

Essa estrutura visa mitigar riscos de inadimplência, priorizando a segurança nas alocações. A diversificação geográfica também é razoável, com operações espalhadas em diferentes regiões agrícolas do país.

DCRA11 é uma aposta de renda passiva — com um freio puxado

O DCRA11 permanece como uma opção interessante para investidores que buscam renda passiva com proteção contra juros altos. A rentabilidade se mantém acima da média do setor, especialmente devido à valorização do CDI.

No entanto, a elevada reserva de caixa levanta dúvidas sobre a eficiência da estratégia. Se a gestão conseguir acelerar as alocações com a mesma qualidade que vem demonstrando, o fundo tem potencial de entregar ainda mais valor.

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