A Copel (Companhia Paranaense de Energia) anunciou uma robusta distribuição de dividendos que totaliza R$ 2,3 bilhões referentes ao exercício de 2024, surpreendendo o mercado com um dividend yield de 3,8% em uma única tacada. No entanto, apesar do pagamento generoso, analistas levantam dúvidas sobre a sustentabilidade desses proventos e o preço atual das ações.
Dividendos extraordinários impulsionados por desinvestimentos
Os dividendos da Copel em 2025 são considerados extraordinários, já que parte significativa dos recursos distribuídos foi originada por desinvestimentos estratégicos, como a venda da UHE Baixo Iguaçu, que rendeu aproximadamente R$ 1,5 bilhão. Esse movimento é parte da estratégia da companhia em focar no seu core business, priorizando ativos renováveis e otimizando a operação.
Embora o pagamento bilionário seja uma boa notícia para os acionistas no curto prazo, especialistas alertam que esse tipo de provento não deve se repetir com frequência. Historicamente, a Copel tem distribuído entre 3% e 4% de dividendos ao ano, com exceção de anos pontuais marcados por alienações de ativos.
Performance das ações: alta relevante, mas lucros não acompanham
Desde janeiro de 2018, as ações da Copel (COPEL6) acumularam uma valorização de 672%, enquanto o Ibovespa entregou 70% e o índice de energia elétrica, 107%. Essa performance destaca o sucesso da companhia em relação ao mercado, mas também levanta questionamentos.
Apesar da forte valorização das ações, o lucro da Copel não acompanhou esse ritmo na mesma proporção. Em 2024, a empresa registrou lucro líquido de R$ 2,8 bilhões, com uma margem de 12,4%. A alavancagem, por sua vez, chegou a 2,6 vezes, o que, apesar de aceitável para o setor elétrico, acende um sinal amarelo sobre a capacidade de expansão sem aumentar o endividamento.
Segundo projeções, mesmo com um payout de 50%, o dividend yield para os próximos anos deve ficar em torno de 4,8%. No entanto, considerando um payout mais conservador, entre 35% e 40%, esse percentual pode cair para 3% a 4%, dentro da média histórica.
Valuation elevado preocupa investidores
O preço/lucro (P/L) atual da Copel é de 10,92, acima da média dos últimos 10 anos, que ficou em 8,42. Para retornar à média histórica, as ações precisariam recuar cerca de 23%, o que indica um valuation esticado em relação ao desempenho recente da companhia.
Apesar de ser a quarta maior distribuidora de energia do Brasil, com concessões renovadas até 2045 e portfólio 100% renovável, a preocupação com a valorização excessiva das ações e o menor espaço para distribuição de dividendos regulares tem feito alguns investidores reconsiderarem novos aportes na companhia.
Perspectivas: foco no core business e crescimento estratégico
A Copel segue firme em sua estratégia de concentrar esforços no setor elétrico, alienando ativos fora desse escopo, como a Compagás e a usina de gás UEGA. A companhia também tem se preparado para o crescimento, com foco em oportunidades tanto orgânicas quanto inorgânicas — entre elas, 20 concessões de distribuição e 40 empreendimentos de geração previstos para renovação nos próximos 10 anos.
Além disso, a empresa mantém uma política de comercialização de energia que garante previsibilidade: para 2025, 88% da energia já está vendida; para 2026, 79%; e para 2027, 68%. Essa estabilidade reforça a solidez operacional da Copel, ainda que a rentabilidade futura dependa da capacidade da empresa em manter o crescimento dos lucros.
O post Copel anuncia R$ 2,3 bilhões em dividendos, mas lucros não acompanham alta das ações apareceu primeiro em O Petróleo.