A economia brasileira caminha para um período desafiador. Em meio à iminência de novas tarifas impostas pelos Estados Unidos e uma crescente desaceleração no ritmo de crescimento, o país enfrenta pressões externas e internas que podem comprometer sua estabilidade econômica até 2027.
A nova ofensiva tarifária dos EUA
O presidente norte-americano Donald Trump prepara para o dia 2 de abril o chamado “Dia da Libertação”, marcado pela aplicação de tarifas generalizadas sobre diversos produtos importados. Entre os alvos estão os metais brasileiros — especialmente o aço — que já enfrentam uma tarifa de 25% desde o início de março.
Nos bastidores diplomáticos, o governo brasileiro tem atuado intensamente. Delegações foram enviadas a Washington para tentar negociar a manutenção das cotas de exportação vigentes no primeiro governo Trump, que permitiam a entrada de 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 600 mil toneladas de aço acabado anualmente nos EUA.
Mesmo assim, o clima é de incerteza. O Ministério das Relações Exteriores busca diálogo com autoridades americanas, mas até o momento os sinais são de endurecimento. As tarifas poderão ser estendidas sem exceções, o que ameaça diretamente as exportações brasileiras de aço — um setor estratégico para o país.
Disputa por etanol: novo ponto de tensão comercial
Outro ponto sensível nas negociações é a tarifa brasileira sobre o etanol importado dos EUA, atualmente em 18%, contra uma alíquota de apenas 2,5% aplicada por Washington aos produtos brasileiros. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) resiste à redução da taxa, alegando proteção aos produtores do Nordeste, responsáveis por apenas 9% da produção, mas que empregam 65% da força de trabalho do setor.
Essa resistência tem sido vista como um entrave à busca por reciprocidade comercial. Trump, em seus discursos, tem citado diretamente as barreiras brasileiras ao etanol como justificativa para sua postura mais agressiva.
Governo brasileiro adota cautela diplomática
Apesar das pressões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem adotado um discurso moderado. Em viagem recente ao Vietnã, afirmou que prefere esgotar todas as possibilidades de negociação antes de recorrer a retaliações ou mesmo à Organização Mundial do Comércio (OMC). “Queremos usar cada palavra do nosso dicionário para estabelecer o livre comércio com os EUA”, declarou.
Ao mesmo tempo, Lula não descarta uma intervenção direta e disse que está disposto a conversar com Trump, caso seja necessário, mesmo com as diferenças ideológicas.
Economia interna desacelera: juros altos e inflação preocupam
Enquanto as exportações enfrentam ameaças, a economia doméstica também apresenta sinais preocupantes. Após três anos com crescimento acima de 3%, as projeções para o PIB brasileiro caíram drasticamente. De acordo com a consultoria Capital Economics, o país deve crescer apenas 1,8% em 2025, 1,3% em 2026 e 1,5% em 2027.
O principal freio é a política monetária. As taxas de juros foram elevadas para 14,25% como forma de conter a inflação, que segue acima da meta do Banco Central — estimada em 6% para o final de 2025. Mesmo com possíveis cortes futuros na Selic, a projeção é que os juros só retornem a patamares abaixo de 11% em 2027.
Quadro Econômico Previsível para o Brasil
Indicador | 2023 | 2024 | 2025 | 2026 | 2027 |
---|---|---|---|---|---|
PIB (%) | 3,2 | 3,4 | 1,8 | 1,3 | 1,5 |
Inflação (%) | 4,6 | 4,4 | 5,5 | 5,0 | 4,0 |
Juros Selic (%) | 11,75 | 12,25 | 14,50 | 11,25 | 10,00 |
Desemprego (%) | 8,0 | 6,9 | 7,3 | 7,8 | 8,3 |
Câmbio BRL/US$ | 4,86 | 6,18 | 6,00 | 6,00 | 6,20 |
Fonte: Capital Economics
Inflação afeta consumo e reduz popularidade
Além das tarifas e da desaceleração econômica, o governo Lula lida com os efeitos persistentes da inflação, especialmente no setor de alimentos. A alta nos preços de itens essenciais pressiona o consumo e tem impacto direto sobre os índices de aprovação presidencial.
Mesmo com reajustes no salário mínimo e programas de transferência de renda, analistas acreditam que o brasileiro médio pode terminar 2025 em situação financeira pior do que começou. A confiança do consumidor segue baixa, e os gastos devem permanecer contidos nos próximos trimestres.
Riscos fiscais e queda nas commodities agravam cenário
Outro obstáculo é o desequilíbrio fiscal. Apesar de leves melhorias no déficit, o Brasil ainda convive com um elevado endividamento público. O cenário internacional também não ajuda: a queda nos preços das commodities e a redução na demanda da China — principal parceiro comercial — impõem novas pressões.
Celso Ming, colunista de economia do jornal Estadão, comparou o cenário atual a “dirigir à noite em uma estrada coberta de neve e sem sinalização”, destacando o grau de incerteza global.
Caminhos possíveis: diplomacia, reformas e planejamento
Diante desse cenário desafiador, o Brasil terá que unir forças em várias frentes: intensificar o diálogo com os EUA, investir em políticas de estímulo ao crescimento e buscar soluções fiscais sustentáveis. A estratégia do governo Lula de evitar confrontos diretos e apostar na diplomacia pode ser eficaz, mas os resultados dependerão da receptividade americana e da capacidade de articulação interna.
Para os analistas, é essencial que o Brasil aproveite o momento para revisar sua política comercial, diversificar mercados e reduzir a dependência de commodities. Internamente, reformas estruturais — como a tributária e a administrativa — ganham ainda mais urgência.
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