Brasil cogita retaliar EUA com restrições a serviços e propriedade intelectual

Em entrevista ao jornal Valor Econômico nesta terça-feira (2), o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou que o Brasil pode adotar uma estratégia de retaliação cruzada contra os Estados Unidos, atingindo setores sensíveis como serviços sofisticados e propriedade intelectual. A declaração reacendeu o debate sobre o custo e os riscos de uma eventual guerra comercial entre os dois países.

Amorim destacou que o governo brasileiro está avaliando medidas que atinjam “setores que estão prejudicando os americanos”, em resposta a iniciativas protecionistas dos EUA. Embora ele não tenha citado quais medidas específicas poderiam ser adotadas, mencionou que o Brasil pode focar em áreas que historicamente representam fragilidades dos EUA nas relações comerciais, como serviços digitais, softwares e patentes.

“A ideia é buscar setores onde a economia americana é sensível. Nós vamos procurar setores que estão prejudicando os americanos”, afirmou o diplomata, que já foi ministro das Relações Exteriores e da Defesa em governos anteriores.

No entanto, especialistas veem com cautela essa movimentação. O analista Lucas, ao comentar a fala de Amorim, alertou que qualquer retaliação que envolva propriedade intelectual pode gerar uma reação desproporcional dos EUA. “Isso pode escalar para algo muito maior e prejudicial ao Brasil, como já vimos no passado com a Europa, que também sofreu ameaças de tarifas pesadas ao tentar retaliar os americanos”, afirmou.

A lembrança de episódios anteriores, como a imposição de tarifas sobre aço e alumínio durante o governo Trump, e a ameaça de sobretaxa ao vinho francês, serve como alerta. Segundo especialistas, o Brasil representa apenas uma pequena fração das importações americanas, e, por isso, uma retaliação brasileira no comércio de bens teria pouco impacto real. Já ações no campo da propriedade intelectual ou dos serviços podem provocar uma resposta agressiva de Washington.

Erro estratégico?

Para analistas do setor diplomático e econômico, usar a retaliação cruzada como ferramenta de barganha pode ser mais simbólico do que prático. Ainda assim, o risco de escalada de tensões preocupa. “É uma forma de o Brasil tentar se posicionar melhor em uma negociação bilateral, mas considero improvável que essa ferramenta seja efetivamente utilizada. E se for, será um erro estratégico”, disse Lucas.

O setor privado também demonstra preocupação. Empresários temem que um movimento de confronto, especialmente em áreas sensíveis como tecnologia e patentes, possa fechar portas em acordos comerciais, travar investimentos e isolar ainda mais o Brasil de cadeias globais de valor.

Por ora, o governo brasileiro parece estar testando os limites diplomáticos, sem ainda bater o martelo sobre as medidas. Mas a entrevista de Celso Amorim sinaliza que o Planalto está disposto a endurecer o tom — mesmo diante dos riscos de entrar numa disputa desigual com a maior potência econômica do mundo.

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