Na primeira ata do Comitê de Política Monetária (Copom) sob a liderança de Gabriel Galípolo, divulgada nesta terça-feira (25), o Banco Central do Brasil reforçou a percepção de que o país ainda enfrenta um cenário adverso persistente, tanto no ambiente doméstico quanto no internacional. O documento sinaliza, inclusive, que o ritmo de cortes da taxa Selic poderá ser reduzido nas próximas reuniões, marcando um novo tom de cautela na condução da política monetária.
Segundo o comitê, embora os indicadores de inflação venham mostrando desaceleração, os riscos seguem elevados. “O ambiente externo permanece desafiador, especialmente devido à política monetária dos Estados Unidos e à conjuntura global ainda incerta”, destaca a ata.
BC prepara mercado para corte menor da Selic
A expectativa, agora, é de que a autoridade monetária promova um ajuste de magnitude um pouco menor já na próxima reunião. Essa possível redução do ritmo de cortes marca uma inflexão importante na estratégia do Copom, que até então vinha implementando sucessivos cortes de 0,50 ponto percentual.
Embora o mercado esperasse uma continuidade nesse ritmo, a nova postura pode indicar uma preocupação maior com a inflação futura, principalmente em um contexto de incertezas fiscais internas, impacto do câmbio e pressões vindas de commodities internacionais.
Ambiente internacional agrava incertezas locais
O Copom destacou que os desafios externos também contribuem para a manutenção do cenário adverso. A política econômica dos Estados Unidos, por exemplo, ainda impõe forte volatilidade aos mercados emergentes, especialmente com a incerteza quanto à trajetória de juros do Federal Reserve.
Além disso, novas tensões geopolíticas, como o anúncio de tarifa de 25% sobre a compra de petróleo venezuelano pelos EUA, feito por Donald Trump, adicionam mais instabilidade ao mercado global de energia, o que pode pressionar a inflação no Brasil indiretamente.
Pressões internas: IPCA, política fiscal e proposta de isenção do IR
No plano interno, questões fiscais ganham cada vez mais peso nas decisões do Copom. Uma das pautas discutidas em Brasília nesta semana foi o projeto do governo que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o que também beneficia servidores públicos estaduais e municipais.
Governadores e prefeitos pressionam parlamentares por compensações, temendo perda de arrecadação. A proposta, embora positiva do ponto de vista social, representa um novo desafio para o equilíbrio fiscal e pode influenciar as decisões futuras do BC.
Alckmin sugere mudança no cálculo da inflação: “não adianta subir juros para fazer chover”
Durante um evento do Valor Econômico, o vice-presidente Geraldo Alckmin propôs uma revisão no cálculo do IPCA, sugerindo a exclusão de itens voláteis como alimentos e energia – tal como ocorre nos EUA com o índice core inflation. Segundo Alckmin, “não adianta subir os juros para conter uma alta no preço dos alimentos causada por seca ou geopolítica no petróleo”.
A declaração abre um novo debate sobre a metodologia da meta de inflação no Brasil e pode, se levado adiante, alterar significativamente os instrumentos usados pelo Banco Central para combater a inflação.
Análise: sinal de transição na política monetária brasileira
A ata desta semana reforça que o Brasil pode estar entrando em uma nova fase da política monetária: menos agressiva nos cortes de juros e mais focada na estabilidade de médio e longo prazo. A postura de Gabriel Galípolo, que assumiu recentemente a presidência do Banco Central, é observada com atenção pelo mercado, em busca de sinais de continuidade ou mudança no modelo adotado pela gestão anterior.
Especialistas apontam que, embora a inflação esteja controlada nos últimos meses, os riscos fiscais, câmbio volátil e cenário global incerto obrigam o BC a adotar uma postura mais prudente. A continuidade de um ambiente adverso exige, segundo a ata, uma calibragem mais fina da política monetária para evitar riscos maiores à economia.
A ata do Copom lança luz sobre a complexidade do momento atual. Entre a necessidade de estimular a economia com cortes na Selic e o dever de conter riscos inflacionários, o Banco Central parece adotar um caminho mais equilibrado, alertando o mercado para um ritmo de cortes mais brando nos juros. A expectativa, agora, recai sobre as próximas decisões da autoridade monetária — que precisarão levar em conta tanto as pressões externas quanto o delicado equilíbrio fiscal interno.
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