A B3 autorizou uma mudança relevante no mercado de capitais: agora, ETFs que replicam índices de fundos imobiliários (FIIs) podem distribuir dividendos diretamente aos investidores. A medida, embora celebrada por alguns, levanta uma série de dúvidas e controvérsias sobre seus impactos práticos — principalmente no que diz respeito à tributação e composição dos ETFs.
O que são ETFs de FIIs e por que essa mudança importa
Os ETFs (Exchange Traded Funds) são fundos passivos negociados em bolsa que buscam replicar a performance de um índice. No universo dos FIIs, o principal índice é o IFIX, composto por uma cesta dos fundos imobiliários mais relevantes da bolsa brasileira. Investir em um ETF do IFIX, por exemplo, é uma forma prática de se expor a uma carteira diversificada de FIIs com apenas uma operação.
Até recentemente, os ETFs no Brasil eram estruturados para acumular dividendos internamente, reinvestindo os valores ao invés de distribuí-los aos cotistas. Agora, com a nova regra da B3, os ETFs de fundos imobiliários poderão repassar os dividendos diretamente aos investidores — algo que, à primeira vista, parece ser um avanço.
Principais vantagens dos ETFs de fundos imobiliários
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Facilidade e diversificação: ideal para quem não quer montar uma carteira individual de FIIs. Com um único ETF, é possível se expor a dezenas de fundos.
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Taxas de administração mais baixas: por serem fundos passivos, geralmente cobram menos que fundos ativos.
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Liquidez: como são negociados na bolsa, têm maior liquidez do que muitos FIIs individuais.
Mas há desvantagens importantes: atenção à tributação
A maior crítica à mudança diz respeito à tributação. Ao contrário dos FIIs individuais — cujos dividendos são isentos de Imposto de Renda — os dividendos pagos pelos ETFs serão tributados na fonte com alíquota de 15%.
Isso significa que, ao receber R$ 1,00 de dividendos de um ETF, o investidor verá apenas R$ 0,85 em sua conta. Uma diferença significativa quando comparada à isenção dos FIIs tradicionais.
Além disso, os ganhos de capital com a venda de cotas de ETFs também estão sujeitos à tributação, com alíquota de 15% em operações comuns (swing trade), sem a faixa de isenção de R$ 20 mil mensais que existe para ações.
A composição do IFIX pode não ser ideal para todos
Outro ponto de atenção é a própria composição do índice IFIX. Em 2023, por exemplo, cerca de 46% do IFIX era formado por fundos de papel — que investem em CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários). Esses fundos são mais sensíveis ao risco de crédito e à volatilidade da taxa de juros.
Fundos de tijolo (imóveis físicos como shoppings e galpões) e FOFs (fundos de fundos) completam a cesta. Essa composição pode não agradar investidores mais conservadores ou que prefiram uma exposição maior a ativos reais e menos alavancados.
Exemplo prático: KISU11 como alternativa
O vídeo destaca o KISU11, um FOF conhecido no mercado, que atualmente negocia com cerca de 5% de desconto sobre seu valor patrimonial (P/VP = 0,95), distribuindo dividendos com yield de 11,89% nos últimos 12 meses. Apesar da atratividade, o fundo carrega dupla cobrança de taxa de administração: a do próprio FOF e dos fundos que compõem sua carteira.
ETFs valem a pena para o investidor brasileiro?
Embora os ETFs ofereçam simplicidade e diversificação, muitos especialistas ainda preferem montar carteiras próprias de FIIs, especialmente pelo benefício tributário da isenção de IR sobre os dividendos.
Quando os ETFs fazem mais sentido?
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Para exposição internacional: investidores que desejam investir fora do Brasil, onde não há isenção de dividendos, encontram nos ETFs uma forma eficiente de diversificar com praticidade.
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Para iniciantes ou quem não tem tempo: a simplicidade de investir em um único ativo pode compensar a perda tributária em alguns casos.
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Para carteiras de longo prazo com foco em acumulação.
A mudança é positiva, mas exige cautela
A liberação da distribuição de dividendos pelos ETFs de fundos imobiliários marca um novo capítulo no mercado brasileiro, alinhando esses produtos ao padrão internacional. Contudo, o investidor precisa analisar com atenção os impactos tributários, a composição dos fundos e os custos envolvidos.
Na prática, quem busca isenção de IR e personalização de carteira ainda encontra melhores oportunidades nos FIIs individuais. Já para quem prioriza praticidade e diversificação imediata, os ETFs ganham espaço — especialmente em estratégias de longo prazo ou com foco em ativos estrangeiros.
O post B3 libera dividendos para ETFs de fundos imobiliários: entenda o que muda para o investidor apareceu primeiro em O Petróleo.