A guerra comercial iniciada por Donald Trump está promovendo uma série de reações em cadeia que têm deixado os mercados globais em um verdadeiro mar revolto. Após um breve alívio com a pausa de 90 dias nas tarifas, o índice Dow Jones dos EUA saltou para recordes históricos, mas logo voltou a recuar, com queda superior a 2%, evidenciando o ambiente de extrema volatilidade.
A economista Thaís Herédia definiu o momento como um “acordo em mesa de gelatina”: qualquer movimento mais intenso derrete a confiança dos investidores. Para ela, o ciclo da notícia cada vez mais curto, com impactos durando menos de 12 horas é um dos fatores que explicam os movimentos bruscos e descoordenados entre os mercados asiáticos, europeus e americanos.
Efeitos assimétricos: bolsas seguem movimentos semelhantes, mas em horários distintos
Gráficos das bolsas de Tóquio (Nikkei), Nova York (Dow Jones) e Frankfurt (DAX) mostram trajetórias similares durante a semana: queda no início, recuperação com anúncios políticos e nova queda diante da insegurança. No entanto, essas reações não acontecem ao mesmo tempo. O ciclo das notícias, influenciado pelo fuso horário e pela dinâmica das respostas às tarifas, fragmenta os impactos, tornando a leitura global ainda mais desafiadora.
“Há um claro descasamento. O que acontece no Ocidente não reflete de forma simultânea no Oriente, e vice-versa”, explica Thaís.
Dólar dispara e Brasil sente com força a aversão ao risco
A volatilidade também atinge o câmbio. Desde o início da nova rodada de medidas protecionistas dos EUA, o dólar oscilou entre R$ 5,60 e R$ 6,10, com mais um dia de alta nesta sexta-feira. Durante o pregão, chegou a R$ 6,90, voltando levemente no fechamento. O real, entre as moedas emergentes, tem sido uma das mais penalizadas.
Segundo dados do Banco Central, a saída líquida de dólares do Brasil no primeiro trimestre foi a maior desde 1982. Em apenas duas semanas, o volume de investimentos estrangeiros na B3 despencou de R$ 15 bilhões para R$ 5,5 bilhões. A fuga ocorre, em parte, pelo aumento da aversão global ao risco e pela atratividade reduzida dos emergentes em momentos de incerteza.
Apesar disso, analistas descartam risco sistêmico imediato, graças às robustas reservas internacionais do país. Ainda assim, o movimento preocupa.
Pressão dupla: forte atividade interna e aumento das importações
Outro fator que pressiona a moeda americana é a própria força da economia brasileira. O setor de serviços cresceu mais de 4% em 12 meses, e o consumo interno elevado impulsiona a demanda por produtos importados, agravando a balança comercial e aumentando a necessidade de dólares.
Em um cenário onde o capital internacional foge dos riscos, enquanto a economia local segue aquecida e dependente de importações, o Brasil se vê em uma posição delicada. O desafio, para os investidores e para a política monetária, será manter a estabilidade em um cenário global tão frágil quanto uma mesa de gelatina.
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