O fundo imobiliário SNEL11, focado em projetos de energia limpa — principalmente usinas fotovoltaicas —, vive um momento decisivo. Apesar de estar entregando rendimentos acima dos resultados recorrentes nos últimos meses, a prática tem sido sustentada por reservas que já começam a se esgotar.
Com mais de 30 mil cotistas e uma carteira em expansão, o fundo agora depende da entrada em operação de três novos empreendimentos para manter sua atratividade. Mas será que vai dar tempo?
O que está acontecendo com o SNEL11?
Nos meses recentes, o fundo distribuiu R$ 0,10 por cota, valor que superou seu lucro recorrente. Para sustentar esse patamar, o SNEL11 recorreu a reservas acumuladas. Em fevereiro, por exemplo, dos R$ 0,14 gerados com ajuda de reservas, apenas cerca de R$ 0,09 foram efetivamente resultado do fundo — o restante veio da reserva.
Atualmente, essa reserva está em torno de R$ 0,19 por cota. Caso as novas usinas não entrem em operação a tempo, o valor distribuído poderá ser revisto para baixo nos próximos meses.
Ativos em desenvolvimento: esperança ou risco?
O fundo possui três ativos fotovoltaicos em fase de comissionamento (etapa final antes da operação efetiva):
- Mundo Melhor
- São Bento Abade
- Liberdade
Essas usinas ainda aguardam a conexão à rede para iniciarem a geração de receita. O atraso nesse processo já preocupa os gestores, pois o retorno dessas operações é essencial para sustentar a atual distribuição de dividendos.
Exemplo prático:
A usina São Bento Abade tem previsão de conexão entre abril e maio de 2025. Já Mundo Melhor e Liberdade seguem em tratativas, sem data definida.
Por dentro da operação do fundo
Composição atual da carteira
O SNEL11 é majoritariamente composto por ativos solares (quase 40% da carteira), além de contar com recursos em caixa e ativos compromissados. Entre os empreendimentos já operacionais, os principais são:
- Sanremo I e II – superando desempenho previsto
- Montana II – enfrentando problemas técnicos e atraso na emissão de faturas
- Petrolândia I a IV – performance abaixo do esperado
Patrimônio valorizado
Um dos destaques do último relatório foi a remarcação retroativa dos ativos Sanremo, que aumentou o valor patrimonial do fundo em aproximadamente R$ 17 milhões — uma valorização de cerca de 35%. Isso elevou o valor por cota, com PV/VP atual de 1,1.
Setor solar no Brasil: crescimento acelerado e desafios
Em 2024, o país instalou 853 mil novas usinas, das quais mais de 99% são solares. Esse movimento reflete o avanço do setor fotovoltaico, mesmo diante de desafios como o aumento da alíquota de importação de painéis (de 9,6% para 25%).
Entretanto, a indústria nacional ainda não supre 5% da demanda, o que evidencia o potencial do setor — e também sua dependência de fornecedores externos.
Risco real: Com o aumento da concorrência e da produção de energia, a rentabilidade dos projetos tende a cair. O mercado mais competitivo pressiona os preços e pode reduzir os lucros futuros dos fundos como o SNEL11.
Macroeconomia e o futuro do FII SNEL11
As projeções para 2025 e 2026 indicam cenário econômico desafiador:
- Inflação: Pode atingir 5,6% em 2025
- Taxa Selic: Prevista em 15,25% em 2025 e 13,5% em 2026
Esses indicadores influenciam diretamente o apetite por fundos imobiliários, especialmente os de energia, que precisam concorrer com investimentos de renda fixa mais atrativos.
Além disso, há incertezas quanto ao veto presidencial sobre a isenção do imposto de renda para fundos imobiliários, o que poderia afetar a atratividade desse tipo de aplicação.
A terceira emissão de cotas e o apetite por novos ativos
O fundo está em processo de captação, com cerca de R$ 61 milhões arrecadados na terceira emissão de cotas. Esses recursos serão destinados à aquisição de novos projetos — especialmente empreendimentos em operação que já oferecem retorno imediato.
A estratégia do SNEL11 busca mitigar o risco de desenvolvimento ao diversificar o portfólio com ativos maduros. Ainda assim, a aposta principal permanece nas usinas em fase de comissionamento.
Rendimento e perspectivas para os próximos meses
Apesar da boa performance recente, há incerteza no ar:
- Reserva utilizada: Em fevereiro, o fundo precisou usar R$ 0,05 da reserva para manter a distribuição.
- Reserva restante: Está em R$ 0,19 por cota.
- Risco: Caso os ativos em desenvolvimento atrasem ainda mais, a distribuição pode cair abaixo de R$ 0,10.
Se isso acontecer, é possível que o valor da cota no mercado secundário também sofra pressão, abrindo oportunidades para quem aposta no médio e longo prazo — mas assustando investidores mais imediatistas.
SNEL11 vale a pena?
O SNEL11 tem uma tese sólida e bons ativos no portfólio. Porém, enfrenta o desafio de transformar promessa em entrega. O atraso no comissionamento de três importantes usinas coloca em risco o atual nível de distribuição — e isso pode impactar diretamente o preço da cota e a confiança dos investidores.
Para o investidor atento: este pode ser o momento ideal para acompanhar de perto os próximos relatórios e observar se o fundo consegue executar seu plano. A depender do desempenho, pode surgir uma janela interessante de entrada no ativo.
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