O dólar fechou em alta nesta quarta-feira (27), com valorização de 0,43%, cotado a R$ 5,73. O movimento de alta foi impulsionado por uma combinação de fatores externos e internos que aumentaram a aversão ao risco dos investidores.
No cenário internacional, o mercado foi surpreendido por declarações do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que adiantou parte de seu aguardado pacote de tarifas para importações de automóveis. O anúncio, inicialmente prometido para o dia 2 de abril, foi antecipado em parte, gerando inquietação nos mercados globais.
Guerra comercial volta ao radar com Trump
O ex-presidente americano, que busca retornar ao poder nas eleições de 2024, indicou que pretende impor novas tarifas às importações de carros, reacendendo os temores de uma nova rodada de guerra comercial. A promessa de tarifas recíprocas contra vários países preocupa investidores e analistas, que temem impactos diretos sobre os preços e, consequentemente, sobre a inflação global.
Com a sinalização, os mercados reagiram de forma imediata: o dólar se fortaleceu frente a outras moedas, os índices de volatilidade subiram e ativos de risco, como ações, enfrentaram momentos de instabilidade. A Bolsa brasileira, no entanto, resistiu, encerrando o pregão em alta de 0,34%, aos 132.519 pontos, sustentada principalmente pela entrada de capital estrangeiro.
Investidores de olho no IPCA-15 e política monetária
Enquanto o cenário externo adiciona tensão, no Brasil o foco continua sendo o controle da inflação. O destaque desta semana é a divulgação do IPCA-15 de março, marcada para esta quinta-feira (28), às 9h, pelo IBGE. O índice é uma prévia da inflação oficial e serve como importante termômetro para as expectativas dos agentes econômicos.
A última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na terça-feira (26), reforçou o tom cauteloso do Banco Central. Apesar da trajetória de corte da taxa Selic estar em curso, a autoridade monetária voltou a alertar para riscos inflacionários persistentes, especialmente diante da incerteza fiscal e do ambiente político.
Enquanto o Banco Central tenta “frear o carro”, como sugere a própria ata, o governo federal segue pressionando por medidas de estímulo, o que pode gerar conflitos entre política monetária e política fiscal.
Curva de juros reage ao câmbio
O avanço do dólar também provocou movimento de alta na curva de juros futuros, refletindo o temor de que uma moeda americana mais cara possa pressionar os preços e reduzir o espaço para cortes na Selic. Juros longos registraram avanço nos contratos mais negociados, em especial aqueles com vencimento em 2027 e 2029.
Esse movimento é relevante, pois impacta diretamente setores da economia mais sensíveis ao crédito, como varejo e construção civil, além de afetar a precificação de ativos como debêntures e fundos imobiliários.
Capital estrangeiro sustenta Ibovespa
Apesar da turbulência no câmbio e nas taxas de juros, a Bolsa brasileira se beneficiou da rotação global de ativos, especialmente com entrada de investidores estrangeiros buscando oportunidades em mercados emergentes. O fluxo estrangeiro tem sido um dos principais vetores de sustentação do Ibovespa nas últimas semanas.
O investidor local, por sua vez, adota uma postura mais cautelosa, atento aos fundamentos macroeconômicos e às sinalizações do governo quanto à condução da política fiscal e reformas estruturais.
O que esperar do mercado nos próximos dias?
Com a proximidade do anúncio oficial de Trump no dia 2 de abril e a divulgação do IPCA-15 nesta quinta-feira, os mercados devem manter a cautela. A expectativa é de que os dados de inflação tragam mais clareza sobre o ritmo dos cortes de juros no Brasil, enquanto os desdobramentos da política americana continuarão influenciando o humor global.
Além disso, o mercado estará atento ao Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do Banco Central, que também deve trazer novas projeções macroeconômicas e ajudar a calibrar as expectativas quanto aos próximos passos da política monetária.
Para saber mais:
A alta do dólar para R$ 5,73 reflete um momento de tensão global, impulsionado pela retórica protecionista de Donald Trump e pela expectativa de inflação no Brasil. Com investidores estrangeiros sustentando a bolsa, o mercado segue atento aos próximos indicadores econômicos e à condução da política monetária.
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