Nos primeiros três meses de 2025, o dólar acumulou uma queda próxima de 9% frente ao real, marcando um dos recuos mais expressivos em anos recentes. Apesar do impacto positivo para o Brasil em termos cambiais, analistas alertam que a valorização da moeda brasileira tem sido impulsionada quase exclusivamente por fatores externos — e não por avanços no cenário econômico ou político doméstico.
Segundo o economista Luan Arakaki, da BM&C News, o movimento atual é reflexo direto da queda do índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas globais. Com a desaceleração do dólar em mercados internacionais, moedas de países emergentes — como o real — vêm se valorizando. Mas essa tendência pode estar com os dias contados.
Por que o dólar está caindo no Brasil?
Fatores externos em destaque
O grande catalisador da queda cambial foi o forte fluxo de capital estrangeiro direcionado a mercados emergentes, especialmente após sinalizações de que os Estados Unidos podem estar próximos de iniciar um ciclo de corte de juros. Com isso, investidores buscam maior retorno em países como Brasil, México e outros asiáticos.
Outro ponto que beneficia o Brasil é o risco de uma possível reeleição de Donald Trump à presidência dos EUA. O republicano tem prometido políticas protecionistas mais agressivas, com aumento de tarifas para diversos países. Como o Brasil ficou fora da lista de principais alvos dessas possíveis taxações, investidores passaram a ver o país como uma “zona neutra”, atraente para o redirecionamento de capital.
“O Brasil está de escanteio nas políticas tarifárias do Trump. Isso torna o país uma via de escape para o capital global”, destaca Arakaki.
Desvalorização do dólar no mundo
A retração do índice DXY nos últimos meses é mais um elemento fundamental nesse cenário. Com o enfraquecimento da moeda americana frente ao euro, ao iene e outras moedas principais, há uma pressão natural de valorização das moedas emergentes.
E o Brasil? O risco está no fiscal
Embora o câmbio esteja favorecendo o real, o economista alerta que os fundamentos internos permanecem frágeis. A política fiscal brasileira ainda carece de reformas estruturais e há receios sobre o comportamento do governo em ano pré-eleitoral.
A proposta orçamentária de 2026 será votada ainda este ano, e especialistas já enxergam nela um potencial de risco elevado. O motivo: a proximidade das eleições presidenciais pode levar a um aumento significativo dos gastos públicos, o que traria desconfiança ao mercado e pressionaria novamente o dólar para cima.
“O pacote de 2025 já foi aprovado com várias emendas. Agora, 2026 promete ainda mais instabilidade por conta da corrida eleitoral. Isso pode representar o fim da maré favorável para o real”, explica o analista.
Fundos locais ainda não embarcaram
Outro ponto relevante é a falta de participação dos investidores locais no recente rally da Bolsa. Segundo levantamento da BM&C, mesmo com o Ibovespa acumulando altas expressivas nas últimas semanas, os fundos brasileiros ainda não estão comprando de forma relevante. Quem tem sustentado o movimento é o investidor estrangeiro, que além de aportar em ações, também tem vendido dólares e comprado reais, o que amplia a pressão sobre o câmbio.
Até quando o dólar vai cair?
A dúvida que paira entre os investidores é: a queda do dólar tem fôlego para continuar? A resposta, segundo os especialistas, depende menos do que acontece fora do Brasil e mais do que o governo fará daqui pra frente.
Se o cenário externo continuar positivo — com cortes de juros nos EUA e ausência de novas turbulências — o real pode se manter valorizado. No entanto, caso o governo brasileiro sinalize aumento de gastos, rombos fiscais ou instabilidade política, o efeito pode ser o contrário: fuga de capital e retomada da alta do dólar.
A valorização do real e a queda do dólar em 2025 foram boas notícias até aqui, mas são sustentadas por pilares frágeis. O Brasil está se beneficiando de uma conjuntura internacional favorável, mas precisará mostrar responsabilidade fiscal e estabilidade política para manter esse cenário.
O investidor atento deve monitorar, além da cotação do dólar, os desdobramentos da proposta orçamentária de 2026 e os sinais do governo quanto à condução econômica no ano eleitoral. Afinal, como destacou o analista Luan Arakaki, a pergunta sobre até quando o dólar continuará caindo “vale um bilhão de dólares”.
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