Mesmo após registrar prejuízo de R$ 87 milhões no quarto trimestre de 2024, a Bradespar (BRAP4) surpreendeu o mercado com a proposta de pagamento de R$ 350 milhões em dividendos. O valor representa um dividend yield líquido de 10,3% sobre a cotação atual das ações preferenciais, cerca de 30% acima dos rendimentos pagos diretamente pela Vale — empresa na qual a Bradespar concentra 100% de seus investimentos.
Bradespar: uma holding focada exclusivamente na Vale
A Bradespar funciona como uma holding de investimentos com uma única grande aposta: a mineradora Vale. Atualmente, detém 3,83% do capital da companhia, o que equivale a cerca de R$ 9,33 bilhões em participação. Isso torna o desempenho da Bradespar diretamente atrelado ao resultado operacional e financeiro da Vale.
Apesar de um lucro líquido de R$ 1,2 bilhão no acumulado de 2024, o resultado anual representa uma queda de 37% em comparação a 2023, refletindo o enfraquecimento do desempenho da Vale no período, afetado pela queda nos preços do minério de ferro.
Proposta de dividendos: oportunidade ou armadilha?
A proposta de R$ 350 milhões em proventos, com data-com em 25 de abril e pagamento em 15 de maio, garante aos acionistas de BRAP4 um rendimento líquido estimado em 5,1% — somente nesta distribuição. Somando os proventos relativos ao exercício de 2024, o total chega a R$ 1,86 por ação, ou um dividend yield líquido de 10,3% na cotação atual, superando em cerca de 30% o retorno oferecido pela própria Vale.
Esse diferencial atrai investidores que buscam renda passiva, mas é importante lembrar que esse retorno elevado carrega riscos — principalmente o chamado “desconto holding”.
Entenda o desconto holding da Bradespar
Atualmente, a Bradespar está sendo negociada com um desconto holding de 31,2%. Isso significa que o valor de mercado da empresa (R$ 6,9 bilhões) representa apenas 68,8% do valor líquido de seus ativos (estimados em R$ 10,07 bilhões).
Esse desconto, que teoricamente representa uma oportunidade de compra, é justificado por fatores como custos operacionais da holding e, principalmente, o risco de um processo judicial bilionário.
Processo de R$ 1,4 bilhão pode impactar o valor da empresa
A Bradespar enfrenta um processo judicial com perda possível avaliada em R$ 1,4 bilhão, que ainda não foi provisionado nos balanços. Com ajustes, estima-se que o impacto total possa chegar a R$ 2 bilhões. Caso isso se concretize, o valor líquido dos ativos cairia para R$ 8,07 bilhões, reduzindo o desconto holding para cerca de 14,2%.
Mesmo com esse possível impacto, analistas avaliam que a empresa possui caixa (R$ 709 milhões) e liquidez suficiente — via venda de participação na Vale — para arcar com uma eventual condenação sem comprometer sua saúde financeira.
Histórico de dividendos consistente
Desde 2007, a Bradespar tem um histórico consistente de distribuição de proventos, com exceção dos anos de crise como 2016. A política da empresa segue um calendário bem definido: dividendos em abril e novembro, e eventualmente JCP em dezembro, sempre alguns meses após os repasses da Vale.
Em 2024, a empresa distribuiu:
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R$ 0,76 por ação em novembro (dividendo)
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R$ 0,18 por ação em dezembro (JCP)
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R$ 0,92 por ação em abril de 2025 (proposta em aberto)
Esse montante totaliza R$ 1,86 por ação, com rendimento que favorece quem entrou nos papéis a preços menores ou mantém posição há mais tempo.
Indicadores apontam para desconto atrativo
A Bradespar se destaca por ser uma empresa extremamente enxuta, com ativos de R$ 8,66 bilhões e passivos de apenas R$ 123 milhões. Seus múltiplos fundamentalistas também chamam atenção:
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P/L atrativo
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P/VP abaixo de 1
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EV/EBITDA muito baixo
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Yield projetado: 12,7%, contra 8,3% da Vale
Esses números reforçam a tese de que BRAP4 pode ser uma alternativa mais rentável à Vale para investidores com perfil mais arrojado.
Vale a pena investir em BRAP4?
A resposta depende do perfil do investidor. A Bradespar oferece dividendos superiores aos da Vale e negocia com desconto significativo. Por outro lado, é mais volátil, carrega o risco jurídico bilionário e está 100% exposta ao desempenho de uma única empresa — a própria Vale.
Quem busca maximizar a renda passiva e aceita a volatilidade típica de ativos cíclicos pode ver na Bradespar uma oportunidade. No entanto, é essencial ter “estômago” para suportar ciclos negativos, como os que ocorreram entre 2011 e 2016, quando o minério de ferro caiu e os lucros evaporaram.
A Bradespar se posiciona como uma opção interessante para quem busca altos dividendos e acredita em uma recuperação ou estabilidade da Vale. Mesmo após um trimestre de prejuízo, a empresa mantém sua proposta de distribuição robusta, reforçando seu compromisso com os acionistas.
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