A ação da Tupy (TUPY3), uma das queridinhas da Faria Lima e figurinha carimbada nas carteiras de small caps, despencou quase 7% após o anúncio de que BNDEPar e Previ — dois grandes acionistas — indicariam um novo CEO para a companhia. Com isso, a empresa já acumula mais de 15% de queda no ano, levantando um sinal de alerta (ou de oportunidade) entre investidores.
O que está por trás desse movimento? E será que o atual momento da “Tupizinha” representa risco de ingerência política ou um desconto atrativo para quem busca valor?
A polêmica da nova presidência: risco à governança?
O estopim para a derrocada recente das ações da Tupy veio com a indicação de Rafael Lucchesi, ex-diretor da CNI, para a presidência da empresa — escolha apoiada diretamente por BNDEPar e Previ, que juntos detêm cerca de 24% da companhia. A mudança levantou preocupações sobre a governança corporativa, especialmente entre investidores minoritários e casas de análise.
A CVM já entrou em cena, investigando possíveis conflitos de interesse na participação de ministros do governo Lula no conselho de administração da Tupy. Entre os nomes envolvidos estão Carlos Lupi (Ministério da Previdência) e Anielle Franco (Igualdade Racial), que podem receber até R$ 433 mil por ano pela atuação no conselho.
Quem é a Tupy?
Fundada há mais de 80 anos, a Tupy é uma multinacional brasileira que desenvolve e produz componentes estruturais em ferro fundido de alta complexidade. Seus produtos estão presentes em setores como:
- Transporte de carga (blocos e cabeçotes de motor)
- Infraestrutura
- Agronegócio
- Geração de energia
A companhia possui fábricas no Brasil, México e Portugal, além de escritórios nos EUA, Alemanha, Itália e Holanda. Em 2023, a Tupy registrou receita superior a R$ 11,4 bilhões, com 67% da produção destinada à exportação.
Intervenção política: uma nova estatal disfarçada?
Apesar de ser uma empresa privada com capital aberto, a Tupy tem hoje uma estrutura acionária que permite interferência significativa de entes públicos, como o BNDEPar e fundos de pensão como Previ e Petros. Juntos, esses grupos formam maioria e podem influenciar decisões estratégicas — como a troca do CEO.
Esse cenário gerou críticas de investidores e fundos como a Organon Capital, Charles River e Real Investor, que somam quase 10% da empresa. Embora sejam minoritários, têm pressionado por mais transparência e independência na gestão.
Tupy (TUPY3) está barata? O que dizem os números
Segundo análise fundamentalista, a Tupy está sendo negociada a um desconto de cerca de 28% em relação ao seu valor patrimonial — um múltiplo P/VP de 0,72, enquanto a média histórica gira em torno de 1,17.
Esse tipo de desconto, comum em empresas com risco político ou estatal, atrai investidores como Luiz Barsi, que enxerga valor quando há crise:
“As crises geram oportunidades… foi assim com Banco do Brasil, e pode ser com Tupy”, disse em uma analogia ao seu famoso “beijo na boca da Dilma”.
Além disso, analistas como Werner Roger (Trígono Capital) apontam que o segundo semestre de 2025 deve trazer R$ 800 milhões em novas receitas com negócios ligados à descarbonização, biocombustíveis, novas ligas metálicas e transformação digital.
Dividendos e proteção cambial: um atrativo extra
Em termos de proventos, a Tupy vem mantendo um dividend yield médio de 6% ao ano, com pagamentos mais frequentes entre maio, agosto e novembro. Isso, somado à sua exposição internacional (53% da receita vem da América do Norte e Europa), proporciona uma proteção cambial parcial — um ponto positivo em tempos de volatilidade.
Essa característica aproxima a Tupy de empresas como Suzano e Vale, que também se beneficiam do dólar forte e podem ajudar na diversificação de portfólios dolarizados.
O que dizem os analistas?
Apesar da queda expressiva, a maioria das casas mantém recomendação neutra para TUPY3:
- BTG Pactual: Preço-alvo de R$ 35, mas sem viés de compra claro.
- XP, UBS, Itaú, Bradesco, Genial, Bank of America, Citi, Santander, Eleven, Levante: Todos acompanham o papel, mas ainda não veem gatilho claro para recomendação de compra imediata.
A ação segue presa entre R$ 20 e R$ 26 há meses, com investidores aguardando definições políticas e o resultado do 4T23, previsto para os próximos dias.
Vale a pena investir na Tupy agora?
A Tupy vive um momento clássico de “risco versus retorno”. De um lado, a empresa apresenta fundamentos sólidos, bom histórico de geração de caixa, presença global e potencial de valorização caso a governança seja fortalecida. De outro, enfrenta um cenário turbulento politicamente, que pode afastar investidores avessos ao risco.
Se você é um investidor com visão de longo prazo, tolerante à volatilidade e atento aos preços, talvez seja hora de acompanhar de perto a “Tupizinha”. Afinal, empresas descontadas nem sempre ficam baratas por muito tempo.
Como destacou o próprio Barsi, momentos de crise podem esconder boas oportunidades. Mas é preciso atenção: a Tupy ainda pode enfrentar ruídos, e a volatilidade pode persistir. A recomendação geral do mercado ainda é de cautela.
O post Tupy (TUPY3) derrete na bolsa, mas analistas mantêm recomendação neutra apareceu primeiro em O Petróleo.