Dólar dispara a R$ 5,75 com tensões sobre tarifas de Trump e incertezas fiscais no Brasil

A semana começou com forte instabilidade nos mercados financeiros. Nesta segunda-feira (24), o dólar comercial encerrou o dia em alta de 0,65%, cotado a R$ 5,75, o maior nível em meses. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, recuou 0,77%, fechando aos 131.321 pontos. As movimentações foram impulsionadas por um conjunto de fatores externos e internos, em especial a possibilidade de novas tarifas nos Estados Unidos e o ambiente de desconfiança fiscal no Brasil.

A política tarifária de Trump volta ao radar

O ex-presidente americano Donald Trump, cotado como forte candidato nas eleições de 2024, voltou a agitar o cenário global ao anunciar que pretende impor novas tarifas sobre automóveis e, ao mesmo tempo, conceder descontos a alguns países aliados. A medida reacendeu temores de uma nova guerra comercial, principalmente entre Estados Unidos e China, e provocou instabilidade nos mercados emergentes.

De acordo com o Wall Street Journal, Trump pretende excluir setores estratégicos — como o automobilístico, farmacêutico e de microchips — das tarifas recíprocas, o que intensificou os debates sobre protecionismo e seus impactos globais. A possível mudança deve ser anunciada oficialmente no dia 2 de abril.

Reflexos no Brasil: câmbio, juros e bolsa sentem o baque

A reação imediata foi a fuga de capital estrangeiro dos mercados emergentes, o que impulsionou o dólar e pressionou os ativos locais. Além da valorização da moeda americana, os juros futuros no Brasil também subiram, refletindo a percepção de maior risco.

A queda do Ibovespa nesta segunda também foi influenciada por fatores internos. As falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante a manhã, foram recebidas com cautela pelo mercado. Ele afirmou que a inflação de 2025 pode surpreender positivamente e que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deve manter a meta de superavit fiscal para 2026. No entanto, a confiança dos investidores permanece abalada.

Além disso, os dados atualizados do Boletim Focus do Banco Central mostraram uma revisão para baixo nas projeções da economia brasileira. O IPCA projetado para 2024 caiu para 5,65% e o crescimento do PIB foi revisto para apenas 1,98%, sinalizando um ambiente econômico ainda fragilizado.

Indicadores mistos nos EUA alimentam volatilidade

Do lado norte-americano, o cenário também é de dualidade. Enquanto o índice PMI de serviços mostrou expansão em março, indicando resiliência da economia, o PMI da indústria entrou em território de retração. Isso levanta dúvidas sobre a real força do setor industrial — justamente aquele que Trump busca proteger com suas novas propostas tarifárias.

As declarações do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bess, também chamaram atenção. Ele afirmou que o país está voltando a “privatizar a economia” e que haverá cortes de gastos públicos para reduzir o excesso de empregos no governo. A medida, segundo ele, permitirá controlar a inflação e criar espaço para a queda das taxas de juros.

O que esperar dos próximos dias

O mercado agora aguarda com atenção a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada nesta terça-feira (26). O documento deve trazer pistas sobre os próximos passos da Selic e pode influenciar diretamente o comportamento do câmbio e dos ativos de risco.

Além disso, a viagem do ministro Fernando Haddad à França, marcada para o dia 30 de março, será acompanhada de perto. O encontro com o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, poderá sinalizar novos acordos de cooperação econômica e financeira, em um momento em que o Brasil busca atrair mais investimentos e reafirmar sua responsabilidade fiscal.

Impactos para investidores

Para os investidores brasileiros, o momento pede cautela. A combinação de fatores externos, como a política protecionista de Trump, e internos, como a incerteza fiscal e a desaceleração da economia, cria um ambiente desafiador. A tendência de alta do dólar, caso se consolide, pode pressionar a inflação e afetar decisões do Banco Central.

O investidor que busca proteção pode considerar ativos dolarizados, como BDRs, fundos cambiais e empresas exportadoras, que tendem a se beneficiar da valorização da moeda americana. Por outro lado, a queda do Ibovespa pode abrir oportunidades de entrada em ações descontadas — desde que haja uma visão de longo prazo e uma análise criteriosa de fundamentos.

A disparada do dólar para R$ 5,75 acendeu um alerta nos mercados e mostrou como o Brasil continua vulnerável aos movimentos internacionais e às incertezas internas. Enquanto o cenário global se ajusta às declarações de Trump e aos dados econômicos mistos, o Brasil precisa reforçar sua credibilidade fiscal e oferecer previsibilidade para atrair investidores. O momento exige atenção redobrada dos agentes econômicos — e, sobretudo, cautela.

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