Crise do café: estoques despencam e preços disparam no Brasil

A crise do café no Brasil se tornou um reflexo direto das mudanças climáticas, da inflação persistente e da queda nos estoques. O país, maior produtor mundial do grão, enfrenta em 2025 um dos cenários mais críticos das últimas cinco décadas. Os preços dispararam, a produção caiu e o setor já sente os efeitos profundos da instabilidade climática e econômica.

Impacto Imediato no Bolso do Consumidor

A inflação generalizada no Brasil nos últimos meses trouxe aumentos expressivos nos preços de alimentos básicos, mas o café lidera o ranking de impacto. Em um ano, o valor do produto subiu cerca de 40%, enquanto a cesta de 12 alimentos monitorada pelo setor cresceu, em média, 14,2%.

Com o café sendo item indispensável na rotina do brasileiro, o aumento pegou a população de surpresa. Um quilo do grão chega a custar R$ 125, ou cerca de US$ 25, tornando-se artigo de luxo para muitos. O descontentamento popular cresce e a aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva despencou para 24%, o menor índice desde o início de seus mandatos.

Estoques em Níveis Críticos

A escassez de café no Brasil tem origem nas mudanças climáticas severas que marcaram 2024: o ano mais quente já registrado no país e uma das secas mais intensas nas principais regiões produtoras. Essas condições reduziram drasticamente a produção, e muitos agricultores venderam quase toda a safra meses antes da colheita seguinte.

“Nunca tivemos estoques tão baixos em fevereiro”, alertou Willian Cesar Freiria, gerente da Cocapec, terceira maior cooperativa de café do país.

A situação se repete em outras gigantes do setor, como a Cooxupé, que já comercializou 90% da safra de 2024. O restante disponível é o menor volume da história registrada pela cooperativa.

Mudanças Climáticas e Produção em Risco

As oscilações climáticas alteraram os padrões de chuva e temperatura, prejudicando tanto a qualidade quanto a quantidade dos grãos produzidos. Especialistas afirmam que os fenômenos observados hoje representam um divisor de águas na cadeia produtiva do café.

Para Kelly Ferreira, especialista do Cafés do Brasil Club, os efeitos do clima tornaram o trabalho de “caçadora de café” mais difícil. A tarefa de encontrar grãos de qualidade tornou-se um desafio diante da escassez e da competitividade do mercado.

Empresas de Café Enfrentam Pressões

Com o preço da matéria-prima em alta, empresas especializadas, como o Cafés do Brasil Club, foram obrigadas a reajustar os valores de seus pacotes de assinatura, o que resultou em perda de clientes. Segundo Letícia de Vasconcelos, diretora de marketing do clube, cerca de 20% da base de assinantes foi perdida desde fevereiro.

Além da alta nos custos, o setor enfrenta a abertura do mercado a produtos estrangeiros. Em uma tentativa de conter a inflação, o governo zerou a tarifa de importação de itens essenciais como café, açúcar e azeite. A medida, porém, traz uma nova preocupação: a concorrência com cafés importados de qualidade inferior.

“Estamos diante de um mercado muito mais competitivo. Precisamos de mais regulamentação para proteger os produtores nacionais”, afirma Ferreira.

Um Setor à Beira do Colapso?

A crise atual já é considerada a pior dos últimos 50 anos por analistas e cafeicultores. A escassez de grãos, a instabilidade econômica e as mudanças climáticas criaram um cenário de incerteza. Para muitos produtores, trata-se de uma oportunidade de repensar relações comerciais e estratégias de longo prazo.

“Este deve ser um momento de renegociar contratos e fortalecer as parcerias entre produtores e compradores”, diz Ferreira.

E o Resto da América Latina?

A crise do café não afeta apenas o Brasil. Em Honduras, produtores como o casal Marysabel Caballero e Moises Herrera relatam problemas com mão de obra escassa, custos crescentes de fertilizantes e chuvas imprevisíveis. “Produzir café é nossa vida, mas está cada vez mais difícil”, desabafa Herrera.

No México, a seca intensa de 2024 provocou uma queda estimada de 50% na produção de café, segundo relatos locais. Já na Colômbia e Costa Rica, o cenário foi mais positivo. A Colômbia registrou um crescimento de 23% na produção em 2024, enquanto a Costa Rica prevê uma alta de 8,6% na colheita entre 2024 e 2025.

Perspectivas: Existe Saída?

A curto prazo, a recuperação do setor depende diretamente das condições climáticas e da capacidade de armazenagem. O apoio governamental — tanto por meio de subsídios quanto por políticas públicas de proteção à agricultura — pode ser decisivo.

Também é fundamental reforçar os investimentos em tecnologia agrícola, irrigação e manejo sustentável, a fim de minimizar os impactos das variações do clima e garantir a segurança alimentar e econômica no futuro.

A crise do café no Brasil em 2025 expõe vulnerabilidades estruturais de uma das indústrias mais tradicionais do país. A combinação entre clima extremo, inflação elevada e políticas comerciais controversas tornou o cenário desafiador para produtores, empresas e consumidores. No entanto, o momento pode representar um ponto de inflexão — se houver estratégia, diálogo e investimento inteligente.

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