Alta de juros pelo Banco Central levanta críticas e expõe divisão sobre política monetária

Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, movimento que já era amplamente exigido pelo mercado. No entanto, o tom do comunicado que acompanhou a decisão deixou analistas e investidores com mais dúvidas do que certezas, especialmente quanto ao compromisso da autoridade monetária em atingir a meta central de inflação.

A análise do economista Vandick Barreto, em entrevista à BM&C News, evidencia essa percepção. Para ele, o comunicado apresentou uma postura ambígua, deixando a porta aberta para futuras altas, mas sem demonstrar firmeza suficiente no combate à inflação persistente.

Inflação fora da meta e pressões fiscais crescentes

De acordo com o relatório Focus, a expectativa de inflação para 2025 já supera 5%, enquanto a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%. Para Vandick, os números reais podem ser ainda mais preocupantes: “Meu número para este ano é 7%”, afirma, alertando que há vários fatores que estimulam a inflação.

Entre os elementos destacados estão o forte impulso fiscal promovido pelo governo, com medidas como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, além de programas sociais como o Pé de Meia, o Vale-Gás e outras iniciativas que aumentam o volume de dinheiro em circulação. “É uma política parafiscal, colocando mais dinheiro na rua”, pontua o economista.

Essa combinação de estímulos em um cenário de inflação elevada sinaliza um desequilíbrio preocupante entre política monetária e política fiscal.

Comunicação do Copom decepciona: “Faltou firmeza”

Apesar do aumento da Selic, a principal crítica gira em torno da comunicação do Banco Central. Segundo Vandick, o Copom falhou ao não afirmar de forma categórica que faria “o que for necessário” para trazer a inflação de volta ao centro da meta.

“O comunicado sugere que estamos chegando ao fim do ciclo de aperto monetário. Mas a inflação segue desancorada, com expectativas fora da meta até 2029. Não há como relaxar neste momento”, enfatiza.

Ele compara a postura atual do BC a um aluno que tira nota 5,5 e quer arredondar para 6: “A meta é 3%, e não podemos nos contentar com o mínimo. Precisamos buscar a meta, não o teto dela”, critica.

Continuidade da política anterior e dúvidas sobre novos rumores

Outro ponto levantado é a transição de comando no Banco Central. Segundo o economista, os últimos dois aumentos da Selic – o de janeiro e o de março – ainda refletem decisões contratadas pela gestão anterior de Roberto Campos Neto. A partir de agora, com a equipe de Gabriel Galípolo assumindo protagonismo, há incerteza sobre os rumos da política monetária.

“A dúvida que fica é se o BC vai continuar olhando mais para a atividade econômica, como sugere o novo tom mais ‘dovish’ [suave], ou se vai enfrentar de frente o desafio inflacionário”, questiona Vandick.

Impactos para a economia e para o investidor

A falta de clareza nas diretrizes do Banco Central pode ter efeitos adversos não apenas sobre as expectativas de inflação, mas também sobre a atividade econômica. Um aumento de juros sem uma comunicação firme pode não ser suficiente para ancorar as expectativas, obrigando o BC a tomar medidas ainda mais drásticas no futuro.

Para o investidor, o cenário continua desafiador. A incerteza quanto à trajetória da Selic e o descompasso entre a política fiscal e a cautela na alocação de recursos. A manutenção de uma estratégia planejada e focada em ativos defensivos pode ser uma forma prudente de navegação nesse ambiente.

Um Banco Central sob pressão

A decisão de aumentar os juros foi correta, mas a comunicação do Copom deixou a desejar ao não reforçar o compromisso inegociável com o centro da meta de inflação. Em um cenário de impulsos fiscais agressivos e de inflação desancorada, a falta de firmeza pode custar caro à economia brasileira.

Enquanto isso, o mercado observa atentamente os próximos passos da autoridade monetária, em um momento em que cada palavra pesa tanto quanto cada ponto percentual na taxa Selic.

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