A Transmissora Aliança de Energia Elétrica SA, mais conhecida como Taesa (TAEE11), divulgou seu resultado do quarto trimestre de 2024, que trouxe números aparentemente contraditórios: queda no lucro líquido regulatório e valorização expressiva das ações. Afinal, o que está por trás desse cenário?
Entenda o que está acontecendo com a Taesa
A Taesa é uma das principais empresas do setor de transmissão de energia elétrica no Brasil, com um modelo de negócio altamente previsível, baseado nas chamadas RAPS (Receitas Anuais Permitidas). Porém, no 4T24, o lucro líquido regulatório caiu 7,5% em relação a 2023, enquanto o lucro IFRS (Internacional Financial Reporting Standards) subiu 23%.
Essa diferença gerou dúvidas em muitos investidores, principalmente os iniciantes. Mas a resposta é na natureza dos dois indicadores: o lucro regulatório é mais recorrente e conservador, enquanto o IFRS é influenciado por ajustes contábeis e inflação (como o IGPM).
Por que o lucro regulatório caiu?
Abaixo, os principais fatores que impactaram as qualidades dos resultados:
Despesas operacionais aumentaram
A receita líquida regulatória praticamente se manteve estável, mas os custos operacionais subiram. Um aumento de R$ 52 milhões em despesas representou quase 10% da receita líquida do trimestre.
Eventos não recorrentes
Houve aumento significativo de OPEX por conta de eventos pontuais, como a queda de torres de concessão de ETU, revisões de provisões e rescisões contratuais.
Aumento do endividamento
A dívida líquida subiu e está custando mais caro, principalmente com o CDI em patamares elevados. A despesa financeira ultrapassou R$ 285 milhões no trimestre, instruções ainda mais os lucros.
Mas por que as ações subiram?
Mesmo com a queda no lucro regulatório, as ações do TAEE11 valorizaram mais de 5% em fevereiro. Os principais motivos são:
Pagamento de dividendos acima do esperado
A empresa anunciou o pagamento de R$ 0,88 por unidade, referente a dois comprovados que somam R$ 301 milhões. Isso representou 90% do lucro regulatório — acima da nova política de payout (75%).
Curiosidade: A Taesa alterou recentemente sua política de dividendos, estabelecendo um payout mínimo de 75% do lucro regulatório. No entanto, se esse valor for inferior a 50% do IFRS, prevaleceu o lucro — e foi o que aconteceu.
Lucro IFRS Inflado pelo IGPM
O lucro IFRS levantou-se fortemente devido à recuperação do IGPM, o que impacta positivamente os ativos de transmissão reajustados pela inflação. Isso aumentou a expectativa de novos dividendos e ajudou a elevar a cotação.
Recuperação do setor
Outras empresas do setor de transmissão, como Transmissão Paulista e Alupar, também subiram no mesmo período, impulsionadas pelo fluxo estrangeiro para ações defensivas e descontadas.
Ciclo de RAPs e expectativas para 2025
A ANEEL reajustou as RAPs das concessões da Taesa para o ciclo 2024/2025 com base nos índices inflacionários:
- IGPM: -3,4% (deflação)
- IPCA: +3,9%
Porém, desde julho de 2024, o IGPM voltou a subir, o que poderá beneficiar a Taesa nos trimestres seguintes. Isso deve ser refletido tanto no lucro IFRS quanto no regulatório, especialmente a partir do 3T25.
Dívida, alavancagem e sustentabilidade
Apesar da previsibilidade do setor, a alavancagem da Taesa preocupa:
- Dívida Líquida / EBITDA: Subiu de 3,7x para 4,0x
- Limite saudável: Até 3,0x (acima disso, o risco começa a preocupar)
A empresa precisará de dividendos e investimentos para evitar uma interferência maior de sua estrutura financeira, principalmente com a necessidade de reinvestimento em novas concessões após 2030.
A Taesa ainda vale a pena?
Preço Teto Projetado (com lucro regulatório):
- Lucro regulatório projetado (crescimento de 5%): R$ 1,04 bi
- Pagamento: 75%
- Preço teto para 9% de rendimento: R$ 12,59
- Preço atual (março/25): R$ 11,46 → Margem de segurança: 9%
Preço Teto com Lucro IFRS:
- Lucro IFRS projetado: R$ 1,69 bi
- Pagamento: 50%
- Preço teto: R$ 14,25
- Margem de segurança: Acima de 20%
A Taesa não é mais uma barganha como foi em 2023, mas continua sendo uma empresa sólida e confiável no setor de transmissão. A valorização recente das ações e o payout elevado foram catalisados por eventos pontuais (alta do IGPM e política de dividendos).
A TAEE11 ainda é uma boa empresa para manter a carteira, especialmente para investidores de longo prazo focados em dividendos. No entanto, novos transportes são desativados com cautela, dado o nível de alavancagem e a valorização recente. Outras oportunidades podem oferecer margens mais interessantes no momento.
O post TAEE11 caiu o lucro, mas subiram as ações: o que o mercado enxergou que você não viu? apareceu primeiro em O Petróleo.