Nesta segunda-feira (24), o dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 5,7560, representando uma alta de 0,44%. Esse movimento ocorre em meio a declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que geraram apreensão no mercado financeiro quanto à condução da política fiscal do país.
Declarações que impactaram o mercado
Pela manhã, durante um evento na B3, Fernando Haddad afirmou que “não existe um ajuste fiscal possível” sem o crescimento econômico e que os desafios fiscais não se resolvem apenas com o arcabouço fiscal vigente. Essas declarações foram interpretadas por analistas como um indicativo de que o governo poderia estar considerando flexibilizar suas metas fiscais para priorizar investimentos e programas sociais.
Além disso, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, antecipou que foram criadas mais de 100 mil vagas formais de emprego em janeiro, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Embora o número oficial só seja divulgado na quarta-feira, a antecipação surpreendeu o mercado, que projetava a abertura de 48 mil vagas no período.
Expectativa pelo pronunciamento presidencial
A moeda norte-americana ganhou força especialmente no período da tarde, quando investidores adotaram uma postura mais cautelosa à espera do pronunciamento em rede nacional do presidente Lula, previsto para as 20h30. De acordo com a Secretaria de Comunicação Social (Secom), o presidente abordará programas sociais como o “Pé-de-Meia” e o “Farmácia Popular”, iniciativas que podem ter impactos significativos nas contas públicas.
Fontes do governo também indicaram que Lula pretende editar uma medida provisória para autorizar a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores demitidos que aderiram ao saque-aniversário e, por isso, não puderam acessar o saldo retido. Essa medida visa aliviar a situação financeira de milhões de brasileiros, mas também levanta questões sobre o equilíbrio fiscal.
Reações do mercado e perspectivas
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, destacou que a sequência de informações sugerindo expansão fiscal, como a possível liberação do FGTS, contribuiu para a valorização do dólar ao longo da tarde. “Tudo isso está relacionado à questão fiscal. Há também a perspectiva de medidas de estímulo, o que leva a uma divergência entre a política monetária, que tenta desaquecer a economia, e as ações do governo”, afirmou Costa.
Analistas consultados nos últimos dias demonstraram preocupação com uma possível guinada populista de Lula, que poderia estar buscando recuperar popularidade e se posicionar favoravelmente para as eleições de 2026. Essa percepção aumenta a cautela dos investidores, que temem um descontrole nas contas públicas e suas consequências para a economia.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observou que o mercado tende a operar com volume reduzido na semana pré-Carnaval, o que pode gerar picos de volatilidade diante de episódios de aversão ao risco ou surpresas negativas no campo fiscal. “O mercado está bem parado nos últimos dias em termos de negócios. O real conseguiu se recuperar do tombo do fim do ano em grande parte porque não havia notícias ruins vindas de Brasília. Os estrangeiros vieram aproveitar a bolsa barata em dólar e os nossos juros”, comentou Galhardo, que projeta a taxa de câmbio oscilando entre R$ 5,70 e R$ 5,90 no curto prazo.
Cenário internacional e fatores adicionais
No cenário externo, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, operou próximo à estabilidade ao longo do dia. Investidores aguardam uma agenda carregada de eventos econômicos nesta semana para calibrar suas apostas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Na quinta-feira (27), será divulgado o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA referente ao quarto trimestre de 2024, e na sexta-feira (28), o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo Fed.
Esses indicadores podem influenciar a política monetária norte-americana e, consequentemente, afetar os fluxos de capital para mercados emergentes, incluindo o Brasil. Um cenário de aperto monetário nos EUA pode fortalecer o dólar globalmente, pressionando ainda mais o real.
A alta do dólar para R$ 5,75 reflete uma combinação de fatores internos e externos. As declarações das principais autoridades econômicas do país geraram incertezas sobre a trajetória fiscal e a condução da política econômica, enquanto o cenário internacional adiciona elementos de volatilidade ao câmbio. O mercado permanece atento às próximas ações do governo e aos indicadores econômicos que serão divulgados nos próximos dias, buscando sinais mais claros sobre o rumo da economia brasileira.
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